segunda-feira, 1 de novembro de 2010

31 de Outubro: Dia D

Guest Post- Ricardo Guilherme
31 de Outubro: Dia D

É hoje o parto, o dia D. A democracia brasileira está grávida e outra vez vai romper a placenta eletrônica para parir pelas urnas. De suas entranhas virtuais - tecno-genética de nosso sistema eleitoral - vai nascer um país que, segundo a ultrassonografia do primeiro turno, deverá ser fruto de uma fecundação de sentidos cujo embrião começou a se formar em outubro de 2002.
Assim como a mulher em seus rituais de geração e nutrição nos ensina os ingredientes que nos forjam, também a vivência democrática em seus ritos de partilha nos vocaciona para o nosso próprio reconhecimento enquanto nação. Sem o exercício dessa capacidade de ser matriz, geratriz de lideranças, não se viabiliza a vocação da sociedade de gerar os que vão gerir ações e intervenções sociais.
Desse processo de gestação de ideias e ideais o Brasil é criador e há de ser criatura. Sob este ponto de vista, então, somos nós os grávidos. Se a gravidez - como diz Caetano Veloso na canção Força Estranha – é a expressão de uma pessoa preparando outra pessoa, sejamos, então, quanto à eleição presidencial, a parturiente. Façamos do voto o prenúncio do que há de vir.
As seções eleitorais já começam a dar à luz. Quem, afinal, substituirá o pau-de-arara que se fez estadista? Quem herdará suas diretrizes? Que o dedo no teclado aponte a resposta.
Uma vez confirmadas as recentes ecografias dos institutos de pesquisa, a foto na tela do monitor será a de um novo ser do sexo feminino. E então veremos essa brava gente panbrasileira, de brados nem sempre retumbantes, escancarar as bocas, alargar os diafragmas em urros quase letais de vida para anunciar que, mesmo sem berço esplêndido, e muitas vezes à margem e plácidos, iluminados ao sol do Terceiro Mundo, somos filhos desse solo, donos dessa terra-mãe.
Haverá, por certo, um carnaval extemporâneo e a folia promete invadir a segunda-feira. Pelas calçadas, ao longo das avenidas, os acenos encontrarão outros acenos, todos ávidos de solidariedade na comemoração. Bandeiras hão de tremular nas janelas dos carros irmanadas às que tremularão nos portões. O eleitor anônimo precisa desse extravasar, desse esvair de alegria em uma comunhão de abraços que vai varar a madrugada. A euforia será senhora das ruas, entre batuques e charangas. Braços eretos e afoitos apontarão a direção dos céus para a ejaculação dos fogos de artifícios.
De olhos nublados pela emoção de expressarmos um desejo coletivo, viveremos aquela sensação de deixarmos de ser apenas cada um para sermos um contingente. E, enfim, todos nós festejaremos porque a democracia - sendo a um só tempo a mulher recém-parida e a sua criança recém-nascida - terá rompido a bolsa d’água para parir o futuro que vai parir as gerações futuras.

RICARDO GUILHERME
Escritor e teatrólogo cearense
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E para comemorar.... que tal um sambinha!?

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