terça-feira, 9 de novembro de 2010

Guest Post

Guest Post- José Fernandes
Vindo de terras de Além Mar... mas precisamente, da Ilha da Madeira.

Parabéns... Sofia, seja bem vinda. E para ti, um poema de uma Senhora que também se chama Sofia:

O POEMA
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo.

(Sofia de Mello Breyner Andersen)- Livro Sexto (1962)
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E para a mamã:

PALAVRAS PARA A MINHA MÃE
Mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.
lê isto: mãe, amo-te.
eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.
(José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão")

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