Parem! Cuidado com a reprodução de discursos!

Os dias passam e as irresponsabilidades continuam... Gosto muito do debate político e da diversidade de opiniões, desde que respaldadas, com argumentos e não apenas uma reprodução de discursos alheios, também sem embasamento...
Ontem recebi um email de amigo. Com ironia, o email dizia, como neste trecho:

Vou votar no Serra. Cansei, vou votar no Serra, porque quero de volta as emoções fortes do governo de FHC, quero investir no dólar em disparada e aproveitar a inflação. Investir em ações de Estatais quase de graça e vender com altos lucros.

Daí, uma das pessoas para quem ele mandou o email (talvez ele acreditasse ser ela uma eleitora da Dilma), respondeu algo assim:

EU NÃO VOTO NO PT! Já votei. Não nego. Mas não votarei mais. Não pense que sou à favor do Serra. Não. Não mesmo. Não me apetece em nada o retorno do PSDB e, principalmente, o da corja do DEM ao poder. Mas apoiar um partido que é à favor na morte, do massacre de inocentes e indefesos fetos, eu não sou capaz. E este partido, meu querido amigo, é o que se apresenta na figura de Dilma. Eu sou CRISTÃ, escrito todo em maiúsculo, no sentido único desta palavra, e não a cristã que a candidata do PT diz ser. Eu NÃO vou compactuar com o aborto. E, se você é um cristão como eu, não deveria apoiar uma proposta de governo como esta do PT.

Ao que, ainda bem tivemos como resposta (sim, porque as respostas eram dadas a todos que receberam o primeiro email), algo reconfortante do ponto de vista de argumentação e sem sentimentalismos. Transcrevo um trechinho:

Eu não sou a favor do aborto. A Dilma não é a favor do aborto. Somos a favor da descriminalização e legalização do aborto. Somos a favor que as mulheres que quiserem fazê-lo pelas diversas razões que lhes são pessoais possam fazê-lo em tempo adequado e condições de higiene e respeito à integridade física que evitaria mortes e mutilações que são frequentes no Brasil. E somos a favor disso porque somos a favor do Estado Laico. Um Estado soberano acima das diferenças religiosas e dos preceitos restritos. Inclusive uma das ações do candidato Serra que admiro é a liberação da pílula do dia seguinte. Como os cristãos devem saber não há data estimada pra definir que um feto é uma pessoa. Assim a pílula do dia seguinte tem o mesmo efeito ético impeditivo do seu voto, que a legalização do aborto.É por ter um enorme respeito à vida humana em todas as suas dimensões, inclusive psicológicas, que me coloco contra quem, em um discurso do medo e da desinformação, quer legislar e determinar as convicções individuais. O discurso que fala de massacre de inocentes referindo-se a uma prática (legalização do aborto) que historicamente vem sendo comprovado que não aumenta o número de abortos realizados mas diminui o número de mortes das mulheres que o realizam, se não é má-fé, irresponsabilidade e anti-ético é, pelo menos, desinformado e ingênuo. Ah, só pra esclarecer (o que deveria ser desnecessário). Quem legisla no Brasil, de forma democrática, é o Congresso. Quem pode legalizar ou não uma prática é o Poder Legislativo e não o Poder Executivo. Nessa perspectiva a preocupação quanto às leis que serão criadas, regulamentadas e suas emendas deveria ter sido discutida na eleição da Câmera e Senado. A desinformação, o terror e a chantagem emocional não enriquecem o debate político. O que enriquece uma vida em sociedade é o respeito às liberdades individuais, à diversidade e à autonomia. Ser cristão, eu recordo, é amar ao próximo como a si mesmo. O próximo que ainda está na miséria e precisa de políticas públicas que favoreçam o aumento dos postos de trabalho, políticas públicas que facilitem a aquisição da casa própria, políticas públicas que democratizem o acesso ao ensino superior, políticas públicas que viabilizem lazer, saúde e acesso aos direitos essenciais. Isso, meus caros, é fazer como Jesus: colocar-se ao lado dos excluídos. Não foi com os fariseus (doutores da lei) nem com os saduceus (os chefes religiosos) que ele andou.

Pensemos, companheiros, no tamanho da nossa responsabilidade, quando dizemos ou escrevemos algo!